Por Luiz Philippe de Orleans e Bragança
Um milhão de pessoas na Avenida Paulista no domingo, 25 de fevereiro. Eu e outros políticos e ativistas que lá estávamos pudemos ver o oceano verde-amarelo que formava um paredão no trecho entre a Augusta e a Brigadeiro e a aglomeração nas imediações. A Paulista ficou pequena.
Os discursos proferidos do alto dos dois caminhões, retransmitidos por telões ao longo da avenida, foram menos significativos que o chamado de volta às ruas, um ato simbólico para demonstrar a vontade do povo, e também passar um recado aos poderosos de plantão: a população tem força, já o governo…
Todos estavam ali para tirar uma foto. Sem cartazes, apenas as bandeiras do Brasil e de Israel, como um pedido coletivo de perdão em contraste com as falas de quem comparou os pais do cristiansmo ao nacional-socialista alemão, envergonhando a nação brasileira.
O ato rompeu um silêncio que tinha como origem o medo justificado de perseguições políticas, fato que ainda acontece com ativistas, parlamentares e jornalistas brasileiros, muitos dos quais presos ou exilados e com seu passaporte cassado.
Prova disso foi a retenção no aeroporto de Sérgio Tavares, jornalista português que veio cobrir a manifestação. Teve seu passaporte confiscado, foi isolado em uma sala e respondeu a interrogatório a portas fechadas pela Polícia Federal, que o selecionou não se sabe a mando de quem. Depois do contato com a embaixada de Portugal e com seus advogados, que recorreram da medida, foi liberado para ingressar em solo brasileiro. Como o acontecimento foi de natureza grave, esta semana enviei por meio do meu gabinete um requerimento ao ministro da Justiça para obter esclarecimentos.
O tiro saiu pela culatra: a imprensa internacional repercutiu o caso de Sérgio, e após sofrer as mesmas perseguições vividas pelos brasileiros, o repórter pôde testemunhar e divulgar com mais ênfase a manifestação gigante.
E como o evento já marcou a História, é hora de fazer a lição de casa. Parlamentares e lideranças precisam orientar a base sobre os próximos passos: organização da sociedade para se contrapor ao sistema, com estratégias adequadas, sem se conformar aos mecanismos que querem destruí-la.
Participei como ativista de todas as manifestações desde 2014, e hoje parlamentar sei o quanto o sistema tenta nos intoxicar com suas benesses e ameaças, às quais nunca se deve curvar. É o momento de propor reformas constitucionais profundas. Esta não é, e nunca foi, uma “constituição cidadã”, apesar de muitos da direita a exaltarem dessa forma. É o instrumento legal de cerceamento de liberdades e espoliação de direitos civis e individuais.
Mas por que as ideias de mudanças não são lideradas pelos conservadores? Mesmo quando o tema nos interessa diretamente, quase nunca nos manifestamos com a mesma intensidade e engajamento que a esquerda. A direita ainda está amadurecendo, e será necessário discutir a questão constitucional, pois defender o sistema jurídico atual, criado pela esquerda, é jogar no time do inimigo.