Aos 29 anos, Kiko Sushi já é referência em culinária oriental na cidade Mossoró

ENTREVISTA “Eu acredito que o segredo do sucesso é trabalho

Ele nasceu Wicliffi Ferreira de Queiroz, mas é como Kiko Sushi que ele se identifica e se tornou conhecido em Mossoró, sua terra natal. Aos 28 anos, Kiko é hoje uma das principais referências quando se fala em sushi na segunda maior cidade do Rio Grande do Norte. Atuando no ramo há mais de 10 anos, sendo três com seu restaurante próprio, o empreendedor quer alçar voos cada vez maiores.

Nas páginas amarelas da ACONTECE,Kiko, filho de Maria Sônia Ferreira de Aquino e Ivo Queiroz de Oliveira, casado com Michele Brandão e pai de LizianeIngrid Alves, fala sobre sua trajetória de vida, destaca os desafios superados, se emociona ao relembrar do avô e revela os planos para o futuro: transformar o seu restaurante em uma franquia, sonho que espera concretizar com muito trabalho. “O segredo do sucesso é o trabalho”, afirma. Acompanhe.

Como foi a sua infância? Quais as principais recordações que o senhor tem dessa época?

Comecei a trabalhar com 12 anos. Com 15 anos recebi a notícia que seria pai e fui pai aos 16, e de lá para foi cá muito empenho e trabalho. Trabalhei fazendo sanduíche, pizza, suco. Meu primeiro emprego foi o de chapeiro, fazendo sanduíche, em 2010. Passei dois anos fazendo sanduíche com Alberto, do Big Burger, depois eu fui para o Bambinos, também fazendo sanduíche, e lá surgiu a oportunidade de eu ser sushiman, função que pagava os melhores salários dentro de um restaurante, um hotel, e na época era escasso. Foi algo que me chamou atenção, a falta de mão de obra no mercado e a possibilidade de me profissionalizar nessa área. Me deram a oportunidade e eu agarrei. Passei 10 anos lá.

E a receptividade dos clientes, o feedback em relação ao seu trabalho nessa época, como era?

Eu costumo dizer que inovei em relação aos sushis, porque antigamente os sushimans, pelo menos os que trabalhavam aqui em Mossoró, não queriam ligação com os clientes, eram mais fechados, foi quando eu comecei a inovar nesse sentido, conversando com os clientes, cumprimentando eles, perguntando como eles estavam. A maioria dos clientes daquela época permaneceu sendo meus clientes depois, devido a esse tratamento diferente, de fazer eles se sentirem em casa, por mais que fosse um restaurante, mas todo mundo que chegava lá se sentia bem.

A partir disso o seu nome foi sendo construído junto a essa clientela…

Isso. Na época, o meu instagram era pessoal, só Kiko, aí um primo meu chegou e sugeriu que eu trocasse para Kiko Sushi, isso bem antes de eu pensar em abrir o estabelecimento, então antes mesmo de eu abrir o meu próprio negócio, as pessoas já diziam: “vamos lá para Kiko Sushi”.

Você fez algum curso para se aperfeiçoar na área?

Uma das primeiras coisas que eu fiz com a minha equipe, no primeiro ano, foi um curso na maior escola de sushiman do Brasil, a Nagoya Sushi School, com André Kawai, embaixador de sushi no Brasil e em Portugal, e que hoje mora no Japão. Ele possui mais de seis escolas de sushimans no Brasil inteiro. Fizemos então o primeiro curso com ele, eu e meus quatro funcionários. No ano seguinte fiz outro curso profissionalizante, em sushi de área quente, porque tenho vontade de acrescentar no cardápio pratos quentes como yakisoba, tempuras, saladas.

Você se considera referência em sushi hoje em Mossoró?

Eu acredito que sim. A voz do povo é a voz de Deus. Já ministrei curso na UnP, ao lado do meu amigo Walace, que foi um dos caras que ensinou sobre sushi. Foram mais de 20 alunos na nossa turma. Todos os dias recebemos perguntas na nossa rede social, as pessoas pedindo dicas, e a gente vai sempre compartilhando o que a gente pode. Repassamos muitas dicas para quem está ingressando no ramo, quem quer entrar nessa área.

Não há então um receio de estar criando mais concorrência?

Eu tenho que ter medo é de cair o meu padrão. Eu não devo me preocupar com quem vai abrir, porque todos os dias abrem e fecham sushis. Eu tenho que me preocupar com o meu, ver o que está acontecendo em minha empresa.

Vocês têm uma cartela de produtos bem diversificada, não é verdade?

Sim. Hoje o nosso cargo chefe é temaki. Os clientes gostam muito do nosso temaki. É o item que a gente mais vende. Todos os sushis já possuem uma referência. Quando a gente pensa em fazer um novo, já existem 35 semelhantes, mas há algumas coisas que a gente aprimora. A geleia de pimenta da gente, por exemplo, é referência. Para onde vamos, em outras cidades, participar de eventos, falam que nunca comeram nada igual. Quem faz hoje é a minha esposa.

Qual a visão geral que você tem hoje do mercado de gastronomia oriental?

Hoje, para mim, é tudo muito mais fácil, mas há um tempo, quando começamos há três anos, era tudo mais difícil. Não havia prazo de fornecedor, você não tinha como escolher coisa boa, porque se comprava pouco. Qual desses fornecedores que vai vender a você, que está começando? Não havia a confiança. Hoje eu tenho 50, 70, 100 fornecedores se eu quiser, porque quando o sucesso chega, há várias pessoas ao seu redor para querer ter você como cliente, parceiro, amigo. Uma das coisas que eu mais trago para todo mundo é que, se tiver vontade, esse é um ramo muito bom, muito diferenciado. Hoje em dia eu digo muito a todo mundo que vivo 500% melhor do que vivi em toda a minha vida, tanto financeiramente, quanto em relação às amizades novas que fiz, muitas pessoas boas entrando na minha vida, tudo isso através do restaurante.

Você também acha que é um propósito, uma missão de vida para você?

Eu tenho uma frase que gosto muito de repetir: eu sou iluminado. Às vezes eu recebo tanto de Deus, que eu fico me perguntando: por que eu mereço tanto isso? Eu acho que não faço tanto por merecer o que Deus faz por mim. Às vezes as pessoas falam que o Kiko Sushi é o “sushi da mídia”, que eu sou isso e aquilo, mas eu nunca penso nesse lado não. Eu coloco como propósito que Deus é o meu guia, só acontece o que ele permite que aconteça.

E como surgiu o trailer do Kiko Sushi?

Na época a gente não tinha condição de montar uma loja física. Sou de família pobre, meus pais não têm muitas condições, e aí a única forma que a gente achou de agregar o sushi foi fazendo um trailer, que era próximo da gente conseguir comprar. Quando a gente comprou, muita gente falava: “quem vai comer sushi num trailer, uma comida refinada, diferenciada, como é isso que vai dá certo?”. Eu coloquei na minha cabeça que eu tinha o propósito de Deus, eu sempre tive na minha cabeça que não era da minha vontade, era da vontade de Deus. E aí fomos terminando de organizar o trailer, fazendo de pouco em pouco, aí quando o trailer apareceu a galera ficou “louca”.

Era uma grande inovação…

Sim. Foi logo quando surgiram os food trucks, os trailers, mas nenhum tinha sushi, e o nosso era um trailer diferenciado, feito de ACM, todo revestido de PVC, na época esse material praticamente não existia. A galera fazia trailer de chapa de ferro, coisa antiga, a gente deuuma inovada. E aí tocamos o barco. O trailer ainda está guardado. A gente pretendia usar ele, mas hoje temos uma cartela de clientes muito grande, se a gente abrir o trailer só cabem duas pessoas trabalhando, eu e meu cunhado, então a gente não conseguiria atender todos os nossos clientes. Tivemos uma experiência em Tibau que nos provou isso, tanto que lá colocamos uma loja física no ano passado, que foi bem melhor.

Queremos saber agora: qual o segredo do sucesso?

Eu acredito que o segredo do sucesso é trabalho. Empenho. Humildade. Ser sempre a pessoa que você é. Sempre pensar nos clientes. Não pensar só em dinheiro. A gente hoje, tanto eu quanto cada um dos meus colaboradores, a gente pensa muito no trabalho, o dinheiro a gente vê depois. O dinheiro é uma necessidade, mas a gente coloca ele sempre depois do trabalho. Primeiro a gente faz o trabalho para depois pensar no dinheiro. Eu acredito que seja esse um dos motivos do nosso sucesso. Sempre focar no trabalho.

Vamos falar de futuro. Quais são os seus próximos projetos? Como você se vê daqui a 5 anos?

Eu acredito que a gente vai ver um Kiko Sushi muito diferenciado, revolucionário, algo de cinema mesmo, porque a minha vontade é muito grande. Eu sempre quis ser grande, sempre tive o desejo de ser grande.

Essa veia empreendedora foi despertada como?

Na verdade, é automático. Quando você vai começando a trabalhar, vendo outras coisas, faz uma viagem, ver um vídeo na internet, você vai absorvendo isso e acrescentando ao seu comércio. Eu acredito muito que essa veia empreendedora tem gente que já nasce com ela, mas tem gente que vai adquirindo com o tempo, absorvendo ideias, testando algo novo, colocando em prática. O futuro do Kiko Sushi é gigante, tenho certeza.

Quando você fala gigante, fala na possibilidade de franquias, por exemplo?

Sim. A galera nos procura para consultoria. O restaurante Cactus Sushi, de Russas, é padrão, idêntico ao do Kiko, só não tem o meu nome. Eu digo muito a todos que perguntam: franquia não é só você abrir a boca e dizer que tem. Franquia é você fornecer do peixe ao arroz, você ter tudo aquilo para o seu franqueado, ou seja, farda, faca, arroz, todos os elementos que envolvem a produção do sushi, que você tem que ter para o seu franqueado. Manter o padrão, os mesmos ingredientes. Um dos estudos que a gente mais faz é sobre isso, de ter uma franquia de verdade, não uma franquia só de nome, para que as pessoas não digam: “comi lá, mas o sushi era outro, o temaki era menor”, a gente não quer isso.

Qual foi a sua maior conquista até hoje?

Eu acredito que foi a minha casa própria. Eu nem me mudei ainda, na verdade. Estamos mobiliando a casa. Deus já abençoou e estamos colocando os móveis. Minha maior conquista hoje é essa.

Algum momento você pensou em desistir?

A única dificuldade que a gente passou foi quando a gente abriu o trailer, que na época a gente não tinha calçada, a gente ficava na Praça do Patins, na areia, jogados, muita gente, aí foi um período difícil, 15, 20 dias bem difíceis, porque como era no meio da multidão, os clientes tinham receio de parar, achavam bonito, sabiam que era organizado, pelo padrão que eu já levava, trabalhava, só que as pessoas ficavam com receio de ir. Foi quando surgiu a oportunidade de alugar uma calçada em frente onde a gente estava, foi uma das oportunidades que a gente teve. Quando postamos que estávamos na calçada, foi estouro. Todo o dinheiro que a gente tinha, a gente investiu no trailer.

Quais foram/são as suas referências?

Minha referência como pessoa é o meu avô, eu sempre me inspirei nele. Eu nunca passei fome, mas também nunca foi fácil, porque na época que eu morava com meu avô, que foi quem me criou, junto com minha mãe, ele nunca nos deixou faltar nada. Ele vendia peixe, canjica, milho, espetinho, tinha bar, nunca deixou faltar nada, sempre honrou a função de pai de família. Ele não chegou a ver o resultado do que eu sou hoje, porque durante a caminhada do trailer ele faleceu quando a gente estava fazendo o trailer (nesse momento Kiko se emociona). Quando eu comecei a montar o trailer, ele sabia quanto eu ganhava antes e dizia: “você é doido, fazer uma loucura dessa”. Ele tinha medo de dar errado. E se tivesse dado errado, o que seria de mim? Já que hoje eu não tenho mais ele… A única coisa que eu hoje eu não sou totalmente realizado foi porque ele deu a vida pela minha família e nunca viu o meu resultado, de algum familiar meu.

Você parecer ser bem família. São quantos irmãos, no total?

Eu não fui criado muito com os meus irmãos, eu fui criado mais com as minhas tias, tios, primos. Mas são oiti irmãs. São mais de 30 primos, agregados. Um almoço em família é sempre com muita gente presente. Minha mãe sempre presente também. Estamos nessa caminhada.

Queria que você deixasse uma mensagem para os leitores da Revista ACONTECE, principalmente para quem está começando a empreender.

Tem uma mensagem que eu sempre deixo: trabalhe, trabalhe, trabalhe, seja lá com o que for, seja um sushi, uma pizza, um celular que você vende, uma revista que você publica, trabalhe, trabalhe e trabalhe até você se orgulhar de você mesmo. Eu digo muito isso. Hoje eu tenho orgulho de mim.

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